Rua de mão dupla (2002)

Para mim, o filme foi um retrato de como o espaço nos molda e de como nós moldamos o espaço. Com apenas 24 horas na casa de alguém, os entrevistados já conseguiam especular sobre seu gênero, profissão, cor de cabelo, estado civil, altura, hábitos alimentícios, idade, gostos e interesses... Foi fenomenal ver como o espaço do lar faz parte de quem somos. Fiquei pensando em como minha casa (principalmente meu quarto) é uma parte de mim, uma extensão de mim. De certa forma, exteriorizamos quem somos em nossa moradia. Gostei muito da frase "Cada detalhe é uma história." (apesar de ter sido usada num contexto de estigmatização das maneiras como homens e mulheres ocupam e decoram o local que habitam).

Me chamou atenção a questão do "sentir-se em casa" - a moça do primeiro clipe mencionou até mesmo a sensação de "opressão". Isso me lembrou de um documentário que vimos para a matéria de urbanismo, chamado "Realengo: Aquele Desabafo!", que mostra a insatisfação de moradores de periferias que foram obrigados a se mudar para conjuntos habitacionais do governo. Ao meu ver, "Rua de mão dupla" foi a prova de que um lar não se faz só de aspectos físicos. Uma casa qualquer não é lar. A estrutura do espaço, mesmo que tenha camas, gás, geladeira, fogão, água encanada etc. não é suficiente. Fica um vazio, falta algo. A conexão que temos com o espaço FAZ o espaço ao nosso ver. É nítido como aspectos como cheiros e barulhos incomodam tanto e causam um senso tão grande de estranhamento para os "novos inquilinos".

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