Helvetica (2007)

Olha, a Helvetica tem seu lugar. Para mim, pessoalmente, isso é inegável. Ela tem uma mágica, um frescor, uma limpeza… Ela faz tudo mais agradável, confortável, seguro, suave. É como um dos designers diz na parte final do documentário (não me lembro as exatas palavras): se você for um designer ruim ou alguém que não faz design, use Helvetica Bold em um tamanho só e seu panfleto ficará bom. O próprio cartaz do filme já prova isso: não consigo pensar em outra fonte que formaria um pôster tão satisfatório como esse.

Fiquei pensando em como o mundo é em Helvetica. Principalmente tudo no meu computador, nas redes sociais e nos sinais das ruas. Eu verdadeiramente não imagino outra maneira de ser. Meio que tem que ser Helvetica. Ela é perfeita pra isso. Tudo nela é tão satisfatório que as letras parecem quase “transparentes”. Ela faz tudo parecer "just right".

É realmente incrível, impressionante esse poder. Entretanto, não consigo entender quando os designers do início dizem que Helvetica é “neutra”. Isso não existe! Ela tem, sim, sua personalidade: sua mensagem é de ordem, limpeza, contemporaneidade, imobilidade. Isso não é ser neutro. Não existe uma fonte verdadeiramente neutra porque se algo tem forma, por mais “clean”, “maquinada” e “sem ruídos” que ela seja, está sujeito às mensagens que a forma transmite. Ora, pois se eles mesmos querem passar a sensação de modernidade e clareza ao usá-la! Toda tipografia comunica algo.


E é por isso que, mesmo ficando encantada com a Helvetica, penso que às vezes ela não é suficiente. Depois de assistir o filme, comecei a olhar os rótulos de tudo quanto é coisa na minha casa e fiquei analisando capas de álbuns da minha playlist. Dá pra imaginar o quão esquisitos seriam esses designs em Helvetica? O quanto seu significado fundamental seria transformado? As palavras ficariam deslocadas, não combinariam com o "feeling" da obra. A essência se perderia.




Os “super modernistas” afirmam que o que importa é a palavra em si, a clareza da informação escrita, mas isso releva toda a subjetividade humana que permeia inúmeros aspectos da nossa vida e que precisa de ser expressa. O que a capa escrito “Butter” te diz? Manteiga? Não, isso não é o foco. A fonte da palavra transmite a diversão da canção, o quanto ela é animada e descontraída. Nesse caso, pouco importa o que está escrito. Poderia ser “ice cream”, termo que também combinaria com a imagem de derretimento abaixo, que as pessoas interpretariam essencialmente do mesmo jeito e pensariam “Ah, essa música deve ser divertida!" ao olhar de primeira.


Em compensação, aqui abaixo estão exemplos que encontrei nos quais a Helvetica funciona super bem e combina com o álbum! Ela não deixa nada "chato" ou "sem graça", e transmite a mensagem de acordo com cada conceito.



Acho que é, sim, mais difícil fazer algo ficar bonito em outras fontes que não sejam a Helvetica. Bonito mesmo, no sentido de “pretty”, aquela coisa bem agradável, que ninguém nem consegue botar defeito de tão “clean”, sabe? Que parece que tudo está em seu devido lugar e não tem como melhorar. Entretanto, beleza não é tudo. Apesar de crer que a “luta contra a feiúra”, como dito por Massimo Vignelli, é uma parte significativa e maravilhosa do design, para mim é impossível desassociá-lo das mensagens subliminares e sentimentos que as formas transmitem. As coisas têm identidade, e a identidade da Helvetica, justamente por não ser neutra, não é adequada para comunicar tudo o que precisa ser comunicado em todos os contextos. Ela traz apenas uma das milhares de conotações que a tipografia pode provocar.


A conclusão que tirei foi a seguinte: eu gosto de todas as fontes! Tanto os designs mais "caóticos" quando os mais "polidos" me agradam. Tudo depende do contexto e da maneira que o tipo é empregado. Não sei se um dia vou desenvolver um gosto exato, mas por enquanto não tenho preferência entre modernismo e pós-modernismo. Os dois são legais e interessantes e acho pouco produtiva a discussão de qual é "melhor". Gosto mais de um ou de outro de acordo com cada trabalho e com meu humor do dia. Depende da situação, da função (um sinal de "PARE" no trânsito, por exemplo, inevitavelmente deve ser claro e legível para evitar acidentes, então é óbvio que uma fonte confusa não cairia bem. Mas um cartaz de filme, por exemplo, pode ser totalmente ilegível e promover a produção com sucesso!), e da sacada de quem faz o design.


Para finalizar, queria dizer que fiquei encantada com esse documentário, de verdade. Amo, amo, amo quando os professores passam filmes desse tipo pra gente assistir. Eu tive meio que uma epifania quando percebi que tudo o que está escrito ao nosso redor, literalmente tudo, está em alguma fonte. Foi muito legal perceber isso. Dá pra notar minha animação pelo tamanho do texto que escrevi quando era pra ter feito apenas um parágrafo, né...

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