κινούμενη αφίσα 3

Para a versão final do cartaz, ao invés de mexer muito na questão estética, que achei que ficou bacana no segundo, eu quis incorporar mais ainda as teorias de Flusser nos elementos da animação. E foi assim que surgiu minha ideia de "Google Tradutor". Coloquei a tradução de "diálogo com flusser" em 6 línguas para mostrar que, após transformar a escrita linear em imagem técnica, a manipulação através do computador ainda permite a rápida tradução das palavras. 

Aí você deve estar pensando: "Tá, mas o que isso tem a ver com Flusser?" 

Tudo!!

Bom, pra começar, Flusser falava 5 das línguas que aparecem no cartaz: inglês, português, alemão, tcheco e francês (o japonês e o russo eu coloquei por questões estéticas mesmo, pra aparecer alfabetos diferentes e dar um efeito mais "impressionante" haha). E, mais importante, ele estudou a própria teoria da tradução! Isso e também o fato de que utilizava intensamente a retradução como método de transmitir ideias, articulando-se em vários idiomas em suas palestras e escrevendo em diferentes línguas também. Seu primeiro livro publicado, inclusive, se chama "Língua e Realidade" (1963), e ele possui uma obra literalmente chamada "Para uma teoria da tradução" (1969).

Não tenho conhecimento o suficiente nem vou me alongar tentando explicar as ponderações de Flusser, mas quem quiser saber mais pode ler esse artigo: "Vilém Flusser, um migrante plurilíngue". Publicado em 2016 na Revista Landa da Universidade Federal de Santa Catarina, é bem curtinho e dá uma "geral" sobre o assunto que achei bem clara e fácil de entender. Foi dele que tirei minha inspiração para incluir o tema no cartaz.

Aqui vão dois trechos pra quem estiver com preguiça de clicar pra ler haha:

"Ao contrário dos escritores geralmente tomados como plurilíngues, Flusser não apenas escrevia em múltiplas línguas. Parte essencial da sua produção consistia na retradução do mesmo texto em várias línguas, partindo de uma língua até voltar a essa mesma língua, ou realizando uma espécie de passeio pelas línguas até encontrar aquela que julgasse a mais conveniente para o momento ou para a exposição de determinado argumento."

"Em Para uma teoria da tradução (1969), Flusser explica que dois textos são traduzíveis na medida em que as regras primárias e secundárias de suas respectivas línguas coincidam. Neste caso, nem sempre comum, o trabalho mostra-se possível e mesmo facilitado, podendo o tradutor recorrer ao esforço de conversão considerado mais improdutivo por Flusser, o da tradução literal, que apela somente aos aspectos denotativos da língua. Segundo Flusser, traduções interessantes são as que jogam com os aspectos conotativos, pois estes demandam criatividade e, acima de tudo, vivência do tradutor em ambas as línguas."

No meu cartaz o que eu faço é exatamente a tradução literal criticada acima haha, ainda mais porque não falo alemão, russo, tcheco, francês e muito menos japonês! Então pode ser que alguma das traduções tenha ficado incorreta ou esquisita para quem sabe o idioma, mas vocês entenderam a intenção! (e essa coisa do "Google Tradutor" pode até ser interpretada como ainda uma outra camada da obra - uma crítica à essa moderna ferramenta, talvez?)

Obs.: obviamente também não falo grego que coloquei no título da postagem kkkkkkkkkkk

Sendo sincera, gostei mais do andamento geral da animação anterior e da aparência dela sem essa parte nova, mas achei a ideia de misturar os conceitos de imagem técnica, tradução, tecnologia e escrita linear todos em um trabalho só tão interessante que não pude deixar de tentar :)

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