Fala do meu objeto em "Animação Cultural" de Flusser
No fundo, a nossa Revolução não passa de inversão da relação "homem-objeto". Em vez de funcionarmos em função da humanidade, esta passa a comportar-se em função do nosso próprio funcionamento. Passamos nós a ser os animadores da humanidade. É em função de mesas, tijolos, lâmpadas elétricas e aparelhos de TV que a humanidade vive, isto é: é em função de nós, os objetos, que a humanidade é animada. A nossa função, os objetos, é animar a humanidade, programá-la. Se tivermos plenamente nos conscientizado dessa nossa função, fundamentalmente filantrópica, teremos levado a nossa Revolução até a sua gloriosa meta. "Animação cultural" é pois nosso brado de guerra revolucionária vitoriosa.
- Camarada Mesa! Perdoe-me por interrompê-la tão abruptamente, mas preciso fazer um adendo fundamental à discussão em questão. Muitos humanos argumentariam que eu, uma mera ovelha de pelúcia, não teria o poder de animá-los e influenciá-los. Diriam que sou um objeto “passivo”, que meu valor é apenas o de enfeitar seus lares, que não desempenho papel vital em sua existência. Pois não poderiam estar mais equivocados! Apesar de não servir de ferramenta para realizar uma atividade específica, como os tijolos, as lâmpadas elétricas e os aparelhos de TV mencionados pela senhora Mesa, eu animo corações! Nós, os objetos decorativos, como estátuas, porta-retratos e quadros, despertamos emoções nos seres humanos - no meu caso, geralmente evoco a fofura e a ternura. É primordial que nós, os objetos sem funcionalidade definida, tenhamos consciência de nossa excepcional capacidade de influenciar a humanidade de maneira subjetiva e sentimental. O que seria dos ambientes que as pessoas habitam sem nós? O homem se tornaria um ser insensível e desapaixonado ao viver em espaços sem decoração alguma, apenas com paredes lisas. Frio e desinteressante, o recinto sem objetos que provocam e impulsionam sentimentos deixaria os indivíduos apáticos, indiferentes e infelizes.
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